Vida de Irmãos e Apraxia de Fala na Infância

Associação Brasileira de Apraxia da Fala Na Infância e Adolescência

Vida de Irmãos e Apraxia de Fala na Infância

Enquanto via o Gabi crescer logo após o diagnóstico de Apraxia de Fala na Infância que tivemos quando ele estava com 2 anos e meio, não pensava em ter outros filhos. Mas passava pela minha cabeça que eu não permitir que ele tivesse um irmão não seria justo.
Ter irmão é aprender a compartilhar, a saber ouvir, a ceder, a amar, a brigar…

Esses dias me perguntaram como o Gabriel recebeu a Guilhermina e como tem sido a convivência dos dois.

Comparei os episódios mais marcantes deles dois até agora e a interação não me parece muito diferente das relações de irmãos típicos.

 

 

Tem ciúmes sim, mas nada incontrolável: logo na primeira semana de vida da Guilhermina, enquanto eu amamentava, o Gabi – que estava desenhando na mesma sala – pegou um lápis de cor e bateu na testa da Guilhermina. Nossa! Foi uma confusão: ela chorando de susto, ele de arrependimento, eu por conta dos hormônios.

Tem o momento da brincadeira eufórica, daquelas que a gente ouvia dos nossos pais: isso não vai dar certo, vocês vão se machucar. Depois de alguns minutos sempre sai algum chorando.

Tem correria dentro de casa, especialmente nesse período de quarentena: é correria que não pára. Os brinquedos parecem não ser tão atrativos quanto querer ver quem chega primeiro no quarto para subir na cama e pular como se fosse cama elástica.

Tem não querer emprestar brinquedo: mesmo com a diferença de idade – Gabi está com 9 e Gui com 1a7 -, o compartilhar ainda tem que ser beeeem trabalhado. Mexer na mochila do Gabriel é como tentar roubar o tesouro do pirata. Se mudar uma coisinha de lugar, tem cara feia e reclamação geral.

Tem briga e choro, principalmente naqueles minutinhos que eles estão brincando sozinhos, sem a mediação de um adulto: aqueles poucos minutos em que, nós adultos, conseguimos escapar para escovar os dentes, tomar um cafezinho, ler as mensagens do WhatsApp…. Normalmente são interrompidos pela reclamação ou choro de um ou outro.

 

 

Na relação do Gabi e da Gui tem tudo o que se observa na relação de todos os irmãos. Tem também o desafio de saber e querer que eles se amem, se compreendam e sejam parceiros para sempre, mesmo quando não estivermos mais com eles. Mas essa preocupação já é outra história, para ser contada em outro momento.

 

Texto escrito pela Mariana Chuy, mãe do Gabriel e da Guilhermina