Letramento e Apraxia de Fala na Infância

Nosso depoimento de hoje é da Yolanda Gin, mãe do Bruno. Eles moram em São Paulo.

A Yolanda faz parte da caminhada da ABRAPRAXIA, pois participou da 1ª Conferência organizada pela Associação, em 2015, quando a ABRAPRAXIA ainda era um projeto.

Bruno tem uma Apraxia de Fala na Infância severa. Só foi falar seu nome aos 7 anos. Hoje, está com 10 anos e seus progressos são nítidos.

Foi o Neuropediatra que descartou o diagnóstico de autismo em Bruno e afirmou que seu problema era de fala quando ele estava com 4 anos: “Saímos de lá desnorteados, pois sabíamos que tínhamos uma criança que não era autista, mas então o que seria?”

Em virtude do trabalho de conscientização sobre Apraxia de Fala na Infância realizado pela ABRAPRAXIA nesses quase quatro anos, Yolanda acredita que a busca pelo diagnóstico atualmente está mais acessível.

“Hoje com certeza este caminho teria sido mais fácil. Já se passaram 6 anos e a Apraxia de Fala na Infância já não é mais desconhecida. Graças ao trabalho da Associação, já conseguimos achar reportagens, artigos e várias informações a respeito do assunto. Muitas vezes os próprios pais já chegam nos profissionais com a informação da possibilidade deste diagnóstico.”

Em relação à escola, Bruno ficou dos 3 aos 9 anos na mesma escola, considerada bastante inclusiva.

“Mas incluir é diferente de aceitar. Bruno tinha muito mais potencial que eles acreditavam e o resultado ele demonstra hoje. Não era estimulado o suficiente. O conteúdo acadêmico era dado de forma muito simples e sem considerar todo o seu potencial”.

Após a troca de escola, Yolanda percebeu a diferença de conteúdo/aprendizado entre Bruno e seus colegas da mesma série.

“Com muita parceria das terapeutas e da escola que nos ajudou e apoiou, ele refez o 1º ano mesmo já tendo 9 anos”.

Yolanda acredita que o êxito da sua alfabetização foi devido ao método adotado, o fônico. Atualmente, o maior desafio de Bruno é a sua alfabetização plena, pois já lê e escreve praticamente tudo. A escrita, inclusive, é feita em letra cursiva. Contudo, a compreensão do que lê (interpretação) e a escrita espontânea de frases são o foco do seu trabalho atual.

Na avaliação de Yolanda, apesar de Bruno já conseguir na fala repetir tudo que lhe é proposto, sua fala espontânea é ainda bastante comprometida: “sua fala consiste de palavras isoladas, junção de palavras sem elementos de conexão e pequenas frases simples. Ainda é difícil para ele escrever o que ainda não consegue falar no espontâneo. Sua linguagem também ficou comprometida, e muitas vezes percebo que ele lê e não entendeu o que leu”.

Interessante Bruno escrever em letra cursiva, pois o que costumamos ver em nosso cotidiano é a alfabetização em letra bastão que gradualmente é substituída pela cursiva, mas isso, normalmente, não é exigido para crianças em processo inclusivo.

Bruno foi apresentado à letra cursiva por sua TO antes de ser apresentada na escola:

“A TO dele sempre defendeu a letra cursiva para nossas crianças com Apraxia de Fala na Infância. Ela visitou um Centro nos EUA em que estudavam crianças apráxicas e lá iniciavam a alfabetização com cursiva. Não tínhamos o apoio da escola pois ele era da turma de “inclusão” e diziam que ele não estava ainda preparado, e este foi um dos motivos de retirá-lo ano passado. A TO já dizia que ele estava preparado e inclusive tinha reforço em casa desta e outras atividades com uma estagiária que ia quatro vezes por semana. Na escola nova, a cursiva foi introduzida a ele junto com a turma e não teve qualquer dificuldade porque já tinha sido bastante treinado.”

Ao narrar todos os avanços que Bruno vem trilhando, Yolanda lembra que certa vez disse em um grupo de mães, quando Bruno tinha ainda 6 anos, que se um dia seu filho falasse, o resto seria lucro. “Atualmente ele já fala e posso considerar que estamos no lucro. Conquistamos e comemoramos pequenas vitórias que para muitos poderiam parecer besteiras”.

“Quando falavam para mim, não faça comparações, isto é quase impossível no início, principalmente se você já viveu a maternidade típica. Mas com o tempo, você verá o quanto seu pequeno te surpreenderá e progredirá. Às vezes não será no tempo que gostaríamos, mas no tempo deles. Mas acredite, os progressos virão quando menos percebemos e esperamos.”

Neste mês de maio a mãe do Bruno, Yolanda participará da Nossa Mesa Redonda – Apraxia de Fala na Infância, para dividir suas experiências com outros profissionais e famílias!

ENCONTRO VIRTUAL

“Encontro Virtual” é um projeto da Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância – ABRAPRAXIA – que visa ao fortalecimento das relações de afeto familiares e sociais, através da troca de experiências.

Através de entrevistas realizadas com mães de diferentes lugares, vivenciaremos a importância do compartilhar tendo em vista ser gerador/catalisador de uma maior possibilidade de encarar as dificuldades de forma pró ativa.

Isso porque quando encontramos nossos pares, há um maior entendimento por parte desses ouvintes que se encontram ou já passaram por situação similar.

Para participar, acesse o link.