Dispraxia ou Apraxia de Fala: um breve histórico

Dispraxia ou Apraxia de Fala: um breve histórico

Apraxia de fala provavelmente foi descrita pela primeira vez por um médico inglês (Dr. Hadden) em um estudo de caso de um menino de 11 anos (Charles). Este artigo continha descrições que hoje, muitos profissionais, reconhecem como marcadores clínicos do quadro.

Charles foi admitido no hospital para um Programa de tratamento de 7 semanas e sua fala foi descrita como “severamente ininteligível”, que somente sua irmã podia compreendê-lo. Nem mesmo o seu próprio nome, ele conseguia dizer com clareza. Na área da Fonoaudiologia, Apraxia foi raramente discutida na literatura americana. Breves discussões foram encontradas nos trabalhos de Orton (1937) e outros (1963,1967). Na literatura britânica, um grande interesse foi refletido pelo trabalho de Morley e colaboradores (1957 em diante). Apraxia de fala passou a chamar a atenção dos pesquisadores americanos, após a publicação de 4 artigos considerados clássicos nos estudos sobre Apraxia em crianças (Rosenbenk et. al, 1972, 1974; Yoss e Darley, 1974a, 1974b).

Nos 10 a 15 anos seguintes, muitas opiniões controversas surgiram, inclusive questionamentos sobre se realmente existia Apraxia. Lentamente as pesquisas foram expandindo, a maioria com estudos de casos, e a aceitação pelos profissionais foi ocorrendo. Muitos termos já foram utilizados, como afasia motora desenvolvimental, apraxia articulatória, dispraxia verbal, distúrbio do planejamento oro-motor, dentro outros. Os prefixos (“a” e “dis”) também geraram confusões. Frequentemente “a” foi interpretado como ausência ou perda e, “dis”, dificuldade/desvio ou anormalidade.

Alguns autores não aceitam o termo Apraxia porque isso implicaria em ausência total da comunicação e também porque não caracteriza uma perda de função, já que estamos falando de crianças que estão em processo de aquisição e desenvolvimento. O termo Apraxia de Fala na Infância (Childhood Apraxia of Speech), foi originalmente adotado por Gretz, 2004, umas das fundadoras da Associação Norte-Americana (Apraxia Kids). O termo foi consolidado em 2007 com o relatório técnico elaborado por profissionais com expertise na área, nos Estados Unidos e se mantém até hoje, defendido e recomendado pela ASHA (Associação Americana de Fonoaudiologia, a maior e mais representativa do mundo e a qual norteia a prática e pesquisa também no Brasil )

Neste consenso de 2007, o termo Apraxia de Fala na Infância cobre todas as apresentações do quadro, desde as de origem congênita, adquirida e associada ou não a uma etiologia específica. Termos como “dispraxia verbal do desenvolvimento” ou “apraxia do desenvolvimento da fala” deixaram de ser usados. Inclusive o termo “desenvolvimento” em referência à apraxia pode ser incorretamente interpretado como a possibilidade do quadro se manter apenas na infância ou apenas durante o período do desenvolvimento. E hoje o que sabemos é o contrário, a depender da gravidade do quadro, as dificuldades na produção da fala poderão persistir após o período do desenvolvimento.

Utilizar terminologias atualizadas e consensuais é importante tanto para a área da pesquisa como da clínica. E lembrando também que mais importante do que isso, é a real compreensão desta condição e isto inclui não apenas o diagnóstico preciso e correto como também a intervenção baseada em evidências e que realmente conduzirá a tratamentos eficazes.

Texto elaborado por: Dra. Elisabete Giusti. Fonoaudióloga Clínica com expertise na área.